Papo Psi

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"Sou meu próprio líder ando em círculos, me equilibro entre dias e noites, minha vida toda espera algo de mim, meio sorriso, meia-lua toda tarde..." (Renato Russo). E assim que me descrevo busco ser autora da minha vida e brilhar sempre no palco da vida, apesar das intempéries.Almejo sempre meu equilíbrio e paz interior numa compreensão mútua. O que faço:Graduanda de Psicologia da Faculdade Santíssimo Sacramento, hoje no 9º semestre e Sargento da Polícia Militar.

domingo, 11 de novembro de 2012

Precisamos falar sobre Kevin



Fatores socioeconômicos, institucionais, culturais, biológicos, midiático, globalização, síndrome do pequeno poder, relações parentais são alguns dos fatores responsáveis pelo desencadeamento da violência. Domenach (1981) diz que, a violência está inserida e arraigada nas relações sociais, não podendo ser considerada apenas como uma força exterior aos indivíduos e grupos que a eles se impõe. Arendt (1990) relata que a violência tem um caráter instrumental, ou seja, é um meio e como meio necessita de orientação e justificação dos fins que persegue.
A violência está relacionada à estrutura social, por ser estrutural ela deriva da maneira como a sociedade (capitalista) organiza os meios de produção e de consumo. A violência estrutural ou institucional está atrelada a forma como as estruturas sociais podem aplicar uma força que retire as pessoas de seu estado ou situação ou que lhes obrigue a atuar contra o seu sentir e parecer. Este tipo de violência se reproduz em diversos momentos do fazer humano. Por exemplo: a violência que acontece no ambiente familiar reproduz uma violência estrutural, já instalada, sendo uma violência que se reveste de um caráter benéfico, ou seja, ela induz aos que são agredidos para que não a percebam como “violência”, mas sim como um estado natural, esperado pela sociedade, tido como “normal”, pois seria uma “justificação”, ou seja, é o valor que é dado a um ato violento e que o torna aceitável, em uma determinada sociedade.
Ela ainda pode ser entendida como o resultado das condições históricas e sociais que o ser humano passou, sendo esta atrelada à forma de organização da vida social. O que faz com que o indivíduo a interprete, como algo natural, em determinados contextos e em outros não. Sendo possível deduzir que a violência não está limitada apenas a atos agressivos, pautados na utilização da força física, mas também mostra seu vigor através de atos coercitivos, como a violência psicológica e a negligência. Além disso, o fenômeno está totalmente associado à realidade social e sempre é desempenhada tendo em vista o alcance de um objetivo, uma finalidade específica, inclusive a finalidade econômica, ou “apenas” a submissão.
Ao analisar, o filme: Precisamos falar sobre o Kevin, percebe-se que o ato violento do adolescente é o produto da relação mútua, em que o agressor e agredido interagem de maneira contínua, com interesses conflitantes. No processo de desencadeamento de um ato violento não deve deixar de levar em consideração os aspectos familiares, ambientais, circunstanciais, os eventos objetivos, subjetivos, conscientes e inconscientes. Sendo este, entendido como o resultado do construto social, em que as sensações e sentimentos corporais se originam em parte de estímulos externos, em parte de estímulos internos, nas representações e pensamentos, como também por motivo de doença.
O que caracteriza o ser-no-mundo de cada indivíduo provém da maneira com este dá significado às experiências e de como elas são significadas em função do aprendizado, formal e informal, e do potencial biológico (genético e ambiental) de cada um. A criança no início de sua aprendizagem formal deve apresentar: a) maturidade intelectual; b) emancipação emocional de seus pais, com a possibilidade de uma interação extrafamiliar e c) capacidade para controlar seus afetos e suas respostas emocionais, bem como a resistir a frustrações e a demanda do meio.
Um ato de violência é uma resposta que a depender do contexto cultural é percebida como “normal” ou “anormal”. No caso de Kevin, percebe-se que ele possuía maturidade intelectual, porém lhe faltou regras, limites, lei, mesmo com os esforços empreendidos pela mãe para recuperar o vínculo afetivo com o filho. Sabe-se que a base psicológica da personalidade infantil são os pais, quando existe uma deficiência nessa base há o desencadeamento de diversos tipos de personalidades. Kevin se caracterizou como ser-no-mundo como um produto das relações entre o plano genético e das suas experiências pessoais era uma “bomba” ambulante, em que suas ações sempre tinham como objetivo tirar proveito em algo e machucar a sua genitora.
 Por personalidade entende-se como aquilo que “somos”, que nos constitui, e isso inclui comportamentos, sentimentos, ações e as maneiras como percebemos e lidamos com o outro. A formação dessa personalidade, ou estrutura, ocorre durante longos anos da nossa existência sendo um processo gradual, complexo e contínuo, que tem início na infância se reafirmando na adolescência, chegando à fase adulta como um padrão consistente na relação com o meio, em que a família, religião, valores e educação têm um papel importante nessa formação.
 Nessa perspectiva está Kevin num contexto familiar em que não existem regras, limites, com figuras parentais que constroem a sua personalidade de forma patológica gerando um indivíduo com prejuízo na adaptação e na relação com o meio, produzindo sofrimento psíquico para ele e para os que o cercam. As percepções que Kevin faz de si e dos outros está totalmente alterada e mal adaptada, apresentando uma falha de conduta, sendo danoso para si e para os outros. Ele de certa forma quis devolver a sua mãe toda a repulsa inicial que ela havia lhe transmitido em quando este era bebê, deixando-a através do seu ato de violência a mercê do julgamento da sociedade e principalmente na busca de entender o que se passou e onde ela poderia ter falhado em sua educação.
Dessa forma, ao confrontar o conceito de violência e o filme percebe-se que a violência muitas vezes está escondida numa relação de dominação de um pólo sobre o outro, mantida através de instrumentos ou meios de dominação, que são em grande parte subliminares. Esse fenômeno é, assim, algo que foi sendo construído durante a história social do homem e que, por conseguinte, está relacionado com a forma de apropriação e objetivação da cultura pelo indivíduo. O ato violento de Kevin desencadeou-se a partir de sua predisposição genética estimulada pelas contingências ambientes e culturais que condicionaram o seu comportamento agressivo, dramático, mentiroso e imprevisível, bem como a sua forma de estar no mundo.

Referências

Precisamos falar sobre o Kevin. Direção: Lynne Ramsay, Drama, 110min, 2011.



domingo, 20 de maio de 2012

Análise do filme Nó na garganta


    A doença é um produto da relação mútua da qual agressor e agredido interagem de maneira contínua, com interesses conflitantes. No processo patológico não deve deixar de serem considerados os aspectos familiares, ambientais, circunstanciais, os eventos objetivos, subjetivos, conscientes e inconscientes, os quais são mediados por um sistema de neurotransmissão que não podem ser considerados de maneira retilínea e uniforme como causa e consequência, mas sim como um mediador do fenômeno patológico. 
 O processo de patologia mental é o resultado do construto social, em que as sensações e sentimentos corporais se originam em parte de estímulos externos, em parte de estímulos internos, nas representações e pensamentos, como também podem ser desencadeados por doenças. O que caracteriza o ser-no-mundo de cada indivíduo provém da maneira com este dá significado às experiências e de como elas são significadas em função do aprendizado, formal e informal, e do potencial biológico (genético e ambiental) de cada um. A criança no início de sua aprendizagem formal deve apresentar: a) maturidade intelectual; b) emancipação emocional de seus pais, com a possibilidade de uma interação extrafamiliar e c) capacidade para controlar seus afetos e suas respostas emocionais, bem como a resistir a frustrações e a demanda do meio.
Um transtorno psicológico é uma resposta que não é “normal” nem esperada no que diz respeito ao aspecto cultural. No caso do garoto Francie, percebe-se que ele possuía maturidade intelectual, inclusive era bastante inteligente para a sua faixa etária, porém lhe faltou à emancipação emocional dos pais, que compunha uma estrutura familiar em que o pai era um músico, alcoolista, fracassado; a mãe apresentava sintomas compatíveis com o transtorno maníaco-depressivo, tinha uma compulsão em fazer doces, havia tentado o suicídio e por esse motivo foi internada no hospital psiquiátrico. Faltando-lhe também a capacidade para resistir às frustrações e demandas do meio, uma vez que ele vivia no contexto social extremamente hostil, coercitivo, num ambiente doentio que o levou ao adoecimento psíquico.
 Francie se caracterizou como ser-no-mundo como um produto das relações entre o plano genético e das suas experiências pessoais era uma “bomba” ambulante, em que suas ações sempre tinham como objetivo tirar proveito em algo e machucar os demais. Tudo cercado por um falso sentimento de culpa ou preocupação.
  Carregado pela herença genética que o predispunha a agitação, ansiedade, agressividade, os quais foram reforçados pelo contexto no qual ele estava inserido, ajudando-o a se tornar uma criança cujos comportamentos eram caracterizados pelos sintomas de transtorno de conduta associado ao transtorno de personalidade esquizotípica, em que apresentava um padrão repetitivo e persistente de conduta anti-social, agressiva, desafiadora, incendiária, com mentiras repetitivas, instável e fuga de casa.
 Por personalidade entende-se como aquilo que “somos”, que nos constitui, e isso inclui comportamentos, sentimentos, ações e as maneiras como percebemos e lidamos com o outro. A formação dessa personalidade, ou estrutura, ocorre durante longos anos da nossa existência sendo um processo gradual, complexo e contínuo, que tem início na infância se reafirmando na adolescência, chegando na fase adulta como um padrão consistente na relação com o meio, em que a família, religião, valores e educação têm um papel importante nessa formação.
 Nessa perspectiva está Francie num contexto familiar sem qualquer parâmetro de valores morais, sem cuidados e com figuras parentais que constroem a sua personalidade de forma patológica gerando um indivíduo com prejuízo na adaptação e na relação com o meio, produzindo sofrimento psíquico para ele e para os que o cercam. As percepções que Francie faz de si e dos outros está totalmente alterada e mal adaptada, apresentando uma falha de conduta, sendo danoso para si e para os outros.
 Dramático, imprevisível, irregular, manipulador, não sabe ouvir um “não” como resposta. O seu único e verdadeiro relacionamento é com o garoto Joe do qual exigia uma atenção especial e qualquer negação por parte de Joe era encarado com muita profundidade, demonstrando um medo desproporcional de abandono sendo capaz de fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para não perder essa amizade.    
O desenvolvimento da sua psicopatologia se dar através de sua predisposição genética aliada ao reforço diário que ele tem de seus pais e da sociedade em que ele está inserido. Após a morte de sua mãe ele vai trabalhar num açougue para ajudar a complementar a renda familiar presenciando atos de violência na matança dos porcos, aguçando ainda mais o seu padrão agressivo.  O ápice da sua patologia se instaura quando ele percebe que a sua amizade com Joe está ameaçada pela senhora Nugent que o rotula como uma criança má. E esse sentimento de perda daquilo que o completa que lhe transmite a sensação de pertença num mundo lhe consome psicologicamente. Ele vai encontrar refúgio na imaginação numa mistura entre elementos religiosos, revistas em quadrinhos, filmes e seriados de classe B.
 Sempre cercado por hostilidade e solidão, apresenta dificuldades na expressão verbal de afeto, desenvolvendo relações interpessoais, de forma características ao desenvolvimento emocional dos componentes da família da qual faz parte. Gerando, a partir disso, um novo mundo que cria novos estados mentais que constituem um novo ser. Assim, as relações intrafamiliares são retroalimentadas, com cada elemento influindo diretamente nos outros. Francie oscilava de um retraimento seguido por um surto de comportamento violento, agressivo ou homicida direcionado a pessoa ou objetos que foram precipitados pelos insultos que a senhora Nugent direcionava a ele.
Tomando como parâmetro o conceito de evolução que é um processo de adaptação, pode-se entender que Francie evoluiu e se adaptou convenientemente a situação nova, como a morte dos pais e a perda da amizade de Joe combinando de outra forma as mornas de condutas ditas aceitáveis. A capacidade de solucionar os problemas foi profundamente influenciada pelo aprendizado que ele teve.
Dessa forma, o processo psicopatológico de Francie desencadeou-se a partir de sua predisposição genética estimulada pelas contingências ambientes, que condicionaram o seu comportamento agressivo, dramático, mentiroso e imprevisível, bem como a sua forma de estar no mundo.




Referências

JORDAN, Neil. Nó na garganta. EUA, 1997. Duração: 109 minutos.
ASSUMPÇÃO JR. Francisco B. Psicopatologia Evolutiva. Porto Alegre: Artemed, 2008. (PP. 25 – 88).

Psicodiagnóstico nos filmes Tratamento de Choque e Terapia do Amor


Psicodiagnóstico é entendido como um processo que tem como finalidade identificar forças e fraquezas no funcionamento psicológico, cujo foco está na existência ou não de psicopatologia. Tendo como etapas: a) entrevista inicial; b) construção da hipótese diagnóstica, c) enquadramento clínico; d) relação terapeuta-cliente; e) entrevista de devolução.
No filme Tratamento de Choque e Terapia do Amor, a entrevista inicial intitulada como um processo de levantamento prévio das hipóteses, que serão confirmadas ou infirmadas através de passos predeterminados e com objetivos precisos, com o intuito de conhecer o sujeito em sua profundidade, visando compreender a situação que o levou a entrevista. É realizada no primeiro filme através da elaboração de um plano de avaliação, a partir dos relatos da noiva do cliente, em que o terapeuta planeja uma estratégia de investigação /exploração da personalidade do cliente expondo este a eventos estressores, utilizando de uma entrevista de estruturação livre, uma vez que o terapeuta possuía o motivo manifesto da consulta e ao expor esse cliente a eventos estressores chegou à hipótese diagnóstica e ao enquadramento de personalidade agressiva intrusiva.
Já no segundo filme perceber-se que a entrevista inicial, hipótese diagnóstica, enquadramento seguiu os trâmites gerais, pois neste filme a cliente procurou o serviço de livre e espontânea vontade, após vivenciar um processo de divórcio.
Ambos os filmes falham na relação terapeuta-cliente, pois o papel do psicólogo(a) é tatear pelos meandros da angústia, desconfiança e do sofrimento do cliente e esse tatear é lidar com as inúmeras resistências do processo, sentimentos ambivalentes e situações desconhecidas, cabendo ao psicólogo (a) observar, perceber, escutar com tranquilidade, aproximar-se sem ser coercitivo, inquiridor, ”todo – poderoso”.
No filme Tratamento de Choque observa-se que a todo instante o terapeuta é invasivo, coercitivo, inquiridor, o “todo – poderoso” dificultando inicialmente, o processo de formação do vinculo, do rapport da relação sujeito – psicólogo (a), pois o terapeuta estabeleceu uma proximidade além da necessária para consecução do processo. Já no filme Terapia do Amor a terapeuta seguiu os trâmites cabíveis ao papel do psicólogo (a) no setting terapêutico havendo a formação do vínculo saudável. Mas a terapeuta falha quando se acha capaz de continuar a terapia, quando esta já envolvia demandas de cunho pessoal da terapeuta indo além do que ela poderia lidar e/ou absorver, passando a investigar uma situação, mais que sorrateiramente estava levando a investigar o relacionamento amoroso do filho.
Dessa forma, os filmes trazem a baila uma reflexão sobre o processo terapêutico, suas etapas, o papel e o comportamento do profissional de psicologia, seus limites e possibilidades que são importantes para a formação dos futuros profissionais do campo “psi”.

Análise do documentário Janela da Alma


A existência é um processo que acontece ao longo do tempo, de forma dinâmica; a cada momento que passa o indivíduo aprende algo ou agrega algo a si que passa a fazer parte dele, à medida que o sujeito consegue ser um e não pedaços que o forma, fica mais forte e tem muito mais possibilidades de estar no mundo e lidar com ele.
O documentário Janela da alma vem trazer à baila às várias maneiras de ver o “real” que vai além da simples percepção, das características próprias das coisas percebidas, uma vez que o fenômeno perceptivo depende também do percebedor. A filosofia existencialista e fenomenológica de estar no mundo, nos diz que o mundo não é puramente exterioridade e o indivíduo não é pura interioridade, mas sim a saída de si para o mundo que tem significação para ele. O mundo e o sujeito revelam-se, reciprocamente, como significações. O eu vive no mundo, mas não se encontra delimitado. Aquilo que se vivencia no momento atual (aqui e agora), pode dirigir o pensamento do sujeito para o que vivenciou, bem como para a expectativa para o que vai vivenciar.
De acordo com as leis gestálticas de percepção (proximidade, similaridade, direção, disposição objetiva, destino comum, pragnanz) observamos que os depoimentos tentam minimizar a necessidade da visão considerada perfeita, chegando, como no depoimento de Hermeto Pascal que romantiza a cegueira, em que o deficiente visual veria o transcendente, ou seja, aquilo que está além da percepção visual, uma vez que o que interessa não é apenas o ver, mas o ver-se; não a imagem do outro, mas o outro como espelho, pois é nos olhos do outro que bem ou mal, nos enxergamos.
A experiência de uma percepção passada de um objeto ou forma, influencia ou não a visão de um objeto que se está vendo aqui e agora. O presente ou aqui e agora convivem com o organismo e com o passado que é uma história, numa relação figura – fundo, de todo e parte. O depoimento de Marjut Rimminem nos mostra como essa relação pode ser devastadora, em que a percepção de sua genitora que a olhava como estrábica e repetia: “coitadinha tão feinha...” perpetuou mesmo após a correção do estrabismo cirurgicamente, pois ninguém notava a mudança. Evidenciando não só o que vemos e como vemos, mas também de que forma enxergamos a nós mesmos.
Campo é aquilo que define e contém toda a percepção e troca. O comportamento deixa de ser entendido apenas como resultado da realidade interna da pessoa e passa a ser analisado em função do campo que existe no momento em que ele acontece onde objetos e pessoas são vistos na sua relação total com o ambiente que o cerca. Essa perspectiva é notória no relato de Win Wenders que diz que prefere ver tudo enquadrado. Nessa percepção um bom enquadramento seria uma tentativa (imaginária na maioria das vezes) de melhor delimitar o campo que na verdade não admite tais precisões, sendo também uma forma de tamponamento de um excesso e da angústia da indiferenciação. A visão seria como uma mediação, baseada nos conceitos e percepções particulares de cada indivíduo, realizadas entre o olhar e o objeto, o diálogo e a subjetividade de cada ser com o real, no qual criamos.
Existem várias formas de ver o real, como relata a cineastra Agnes Varda: “A visão é alterada por sentimentos, sentimentos fortes?” revelando o estabelecimento entre a realidade espacial e a existencial. Apesar de o indivíduo ser um universo fechado ele se encontra dentro de um universo mais amplo com o qual se relaciona. O organismo é um sistema organizado, com o todo diferenciado em suas partes, sendo qualquer sujeito um ser integrado e consistente. Não se pode entender o todo a partir do estudo de suas partes separadas.
O homem é um ser-do-mundo com o outro e este fato é percebido no depoimento de Oliver Sacks que relata que a percepção do outro irá depender dos vínculos tecidos na relação, conduzindo o comportamento a ser regulado pelo meio comportamental em que se está inserido produzindo um comportamento molar o qual é visível a todos e o molecular que acontece no interior do indivíduo do qual só ele tem acesso.
Dessa forma, a visibilidade dos indivíduos que percebem de forma diferenciada o mundo e a si mesmo, sob as mais diversas condições, abre-se ao percebedor como um novo horizonte de significações que no mínimo, farão com que ele hesite antes de fazer discursos que simplifiquem, reduzam ou naturalizam as concepções sobre a realidade como algo fechado, pronto e independente, tendo várias possibilidades de perceber o mundo, seja ele consciente, inconsciente ou imposto por qualquer tipo de limitação física.

domingo, 27 de novembro de 2011

POR QUE AS PESSOAS SE VICIAM?

Válvula de escape, preenchimento de vazio, cultura individualista e hedonista, completude, desaparecimento da descontinuidade entre o sujeito e o “grande outro”, pulsão, são alguns dos motivos que levam os indivíduos a buscarem a droga. Vivemos numa cultura individualista e hedonista rotulada “cultura dos prazeres”, em que o sofrimento proporciona uma solidão absoluta e cada indivíduo que sofre fica só com o seu sofrimento e sente vergonha em assumir que sofre e é nesse sentido que as drogas se transformam em uma porta de entrada se convertendo em mecanismo de escape, em algo apaziguador, sendo um objeto poderoso, capaz de proporcionar grandes coisas e por ser algo proibido seduz. Nessa cultura consumista, os imperativos do prazer, são dirigidos para todos da sociedade, mas apenas alguns têm direito a tê-los. A droga aparece como um objeto que substitui esses imperativos que todos os dias aparecem diante do sujeito anunciados como eles deveriam ter.
 Segundo Freud, é impossível enfrentar a realidade a todo o momento sem um mecanismo de escape, pois o indivíduo sempre busca imaginariamente melhorar a realidade a seu favor tornando-a suportável. Porém, as maiorias das pessoas conseguem manter um equilíbrio entre a realidade como ela é e os mecanismos de escape, mas para alguns sujeitos é tão intolerável que eles não conseguem mais viver sem que haja um aditivo.
Cada toxicômano é único e se vicia por razões e caminhos singulares, pois as drogas os auxiliam a problematizar todas as suas relações na vida moderna, enfeitando um pouco a vida, fugindo um pouco da realidade, como se o sujeito desaparecesse deixando uma espécie de corpo que funciona (que acolhe a droga, que produz efeitos físicos, apaziguadores da dor de viver). Há a ilusão de plenitude, como se ela apagasse a questão subjetiva do sujeito, porém esse efeito é momentâneo, pois não existe vida sem sujeito e como conseqüência há um retorno da angústia, bem como a intensificação do vicio, pois quanto maior a angústia mais imperativa a necessidade de voltar a se drogar. Tornando-se um caminho de ilusão mais curto para se atingir a sensação de prazer, de distanciamento de sua própria realidade, em que o sujeito tem um sentido de satisfação de preenchimento do vazio.
Sabemos que pulsão é um conceito limítrofe entre o anímico e o somático, sendo um estímulo interno que proporciona a diferenciação do interno com o externo e que possibilita ao sujeito buscar atividades para atingir a satisfação, sendo assim, um motor para o desenvolvimento psíquico.  Na dinâmica indivíduo-droga, a pulsão se transforma em uma urgência de ação e a representabilidade psíquica se fixa no plano biológico, em que a busca do prazer pelo toxicômano leva a uma própria perversão da própria natureza da vida pulsional, pois ele não consegue reprimir suas angústias e utiliza de artifícios para fugir de situações externas, instalando-se através das drogas um objeto de satisfação, de necessidade que para o drogadicto não é mais um objeto que ele dispõe enquanto sujeito sendo um escravo desse objeto.
Dessa forma, os indivíduos se viciam por ser uma maneira que eles têm de procurar o equilíbrio emocional, através da procura compulsiva do uso abusivo de drogas, sendo esse processo caracterizado como uma pulsão, uma vez que esta é uma representação psíquica oriunda de uma fonte de ordens de estimulação contínua. O toxicômano sente uma pressão de origem inconsciente, difícil de controlar para buscar o que lhe falta e essa compulsão leva o sujeito a se colocar repetidamente em situações dolorosas. A droga vem como uma busca pelo encontro de si mesmo, capaz de minimizar os sentimentos recalcados levando o indivíduo a uma necessidade de ter algo que lhe satisfaça que preencha o seu vazio, a sua sensação de abandono pelo objeto que foi perdido.
Referências
KEHL, Maria Rita. Drogas. Palestra proferida no Café Filosófico da TV Cultura. DVD. 50 min.
GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Introdução à metapsicologia freudiana 3. Jorge Zahar Editor. PP. 79 – 163.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Políticas Públicas e Modelos de Atenção à Saúde

A atenção à saúde no Brasil tem como histórico o desenvolvimento na prestação de serviços médicos individuais, com enfoque curativo, a partir da procura espontânea aos serviços. Com o advento da nova Constituição Federal de 1988, o Ministério da Saúde expandiu o conceito de saúde na tentativa de reverter esse modelo assistencial e isso vem norteando a mudança gradativa dos serviços, passando de um modelo assistencial centrado na doença para um modelo de atenção integral à saúde, em que haja a incorporação progressiva de ações de promoção da saúde, prevenção das doenças e a recuperação.
Nesse sentido, a atenção básica tem sido uma denominação adotada no país como um conjunto de ações de saúde que englobam estratégias de intervenção de promoção da saúde, prevenção de doenças, agravos e atenção curativa, sendo desenvolvida através do exercício de práticas gerenciais e sanitárias, democráticas e participativas, em equipes dirigidas a populações de territórios bem demarcados, pelas quais assumem responsabilidade. Nesse cenário foi concebido pelo Ministério da Saúde o Programa Saúde da Família (PSF), atualmente Estratégia de Saúde da Família (ESF), que se configura como plano de organização dos serviços de saúde e como estratégia ordenadora da atenção básica de saúde no SUS, com o objetivo de reorganizar a prática assistencial com novas bases e critérios.
Entende-se que a atenção integral em saúde mental deve propor um conjunto de dispositivos sanitários e socioculturais que partam de uma visão integral das várias dimensões da vida do indivíduo, em distintos e variados âmbitos de intervenções: educativo, assistencial e de reabilitação. A integração dessas ações recomenda organizar uma rede de serviços de forma hierarquizada e regionalizada contemplando a ESF. Assim, a saúde mental, como integrante da saúde pública, é incluída no plano de um sistema descentralizado, regionalizado e hierarquizado. É um tipo de ação especial que deve ser exercida no município, desenvolvendo uma proposta integrada aos serviços de saúde, com caráter interdisciplinar, científico, social, cultural e humanizado.
Atualmente, tanto a estratégia de saúde da família quanto à reestruturação da atenção em saúde mental passam por importantes transformações conceituais e operacionais, reorientando o foco no modelo de saúde hospitalocêntrico, para outro descentralizado, integrando serviços de saúde, considerando a necessidade de investigar como vem ocorrendo o desenvolvimento dessas atividades.
Contudo, nem sempre a atenção básica apresenta condições para dar conta dessa importante tarefa. Às vezes, a falta de recursos de pessoal e a falta de capacitação acabam por prejudicar o desenvolvimento de uma ação integral pelas equipes. Nessa compreensão, baseamos a idéia de que urge estimular ativamente, nas políticas de expansão, formulação e avaliação da atenção básica, diretrizes que incluam a dimensão subjetiva dos usuários e os problemas mais graves de saúde mental. Assumir este compromisso é uma forma de responsabilização em relação à produção de saúde, à busca da eficácia das práticas e à promoção da eqüidade, da integralidade e da cidadania num sentido mais amplo. As ações de saúde mental na atenção básica devem obedecer ao modelo de redes de cuidado e essas ações devem estar fundamentadas nos princípios do SUS e nos princípios da Reforma Psiquiátrica. Podemos sintetizar como princípios fundamentais desta articulação entre saúde mental e atenção básica: noção de território; organização da atenção à saúde mental em rede; intersetorialidade; reabilitação psicossocial; multiprofissionalidade/interdisciplinaridade; desinstitucionalização; promoção da cidadania dos usuários; construção da autonomia possível de usuários e familiares.
Redimensionar um modelo de atenção à saúde, de forma que ele esteja em sintonia com as novas concepções de saúde defendida pelo SUS, requer constante movimento de reflexão embutido na práxis. Mudanças de concepções, as quais não acontecem de forma fácil, e o ponto de partida são os profissionais de saúde que devem se inserir com firmeza nas ações de saúde, formado uma rede integrada e inovadora, em que o acolhimento é realçado como peça fundamental sendo uma forma de intervenção que propõe apoio contínuo à pessoa e a todo o seu processo de atendimento na saúde e não somente no que diz respeito ao acesso do usuário ao serviço. Abrangendo o encontro do profissional com o usuário, num processo de negociação das necessidades deste, promovendo acesso buscando a produção do vínculo e uma melhor eficácia das ações de saúde. Aos profissionais Psicólogos cabe o assessoramento à equipe mínina de saúde através de estudos de casos, interconsultas, supervisão continuada, orientação e capacitação no cuidado e acolhimento dos casos de saúde mental, sendo sensível aos vários contextos.
Dessa forma, não há modelos certos ou errados ou receitas que quando seguidas dão certo. A atenção básica à saúde é uma alternativa em defesa da saúde e da melhoria das condições de vida dos indivíduos.


Referências
ROUQUAYROL. M.Z.; FILHO, NAOMAR de A. Epidemiologia e saúde. 5ª ed. Rio de Janeiro: MEDSI, 1999. 600 p.

 www.saude.gov.br

sábado, 16 de outubro de 2010

Análise Crítica do Filme Um Estranho no Ninho

O filme relata a história de Randle Mucmurphy, um prisioneiro que finge ser louco, para não cumprir pena na cadeia, sendo transferido de um presídio-fazenda para um manicômio.  No primeiro momento, o filme enfatiza a chegada de Randle Mucmurphy ao sanatório, onde ele observa toda a rotina monótona daquele local, suas regras e como os seus pacientes eram submissos a elas não sendo capazes de dar uma risada ou cantar. Com a sua presença, todos os pacientes do manicômio percebem que ele é diferente, superior, livre, espontâneo e irreverente do que eles e aos poucos se permitem influenciar de forma benigna pelas suas idéias, já que eles eram obedientes e temiam a enfermeira Mildred Ratched. Com o tempo os pacientes foram encontrando em Mucmurphy aquilo que eles gostariam de ser, mas não podiam devido à organização da clínica, ou seja, eles o elegem o seu líder e ao mesmo tempo protetor contra as ameaças de punições, devido à segurança que ele transmitia e pela demonstração de não temer ao receber uma punição, mantendo sempre o seu principal objetivo que era alcançar a liberdade.
No segundo momento, traz uma reflexão entre a relação, e as conseqüências dessa relação, entre uma pessoa que ao se inserir numa sociedade restrita, repleta de regras quebra a rotina da mesma desrespeitando a ordem vigente, indo de encontro aos princípios daquele sanatório. Ao fazer isso, Mucmurphy é reprimido pelos dirigentes, médicos e enfermeiros, pois ele utilizava de todas as suas artimanhas para ajudar os “colegas” sempre com inteligência e malandragem instituindo o motim naquela Instituição tão conservadora. Várias vezes teve a sua insanidade contestada, mas como ele tinha interesse em permanecer no manicômio, pois acreditava que permanecendo lá seria uma maneira de tornar-se livre, já que havia sido preso por diversas vezes. Imaginou que se fazendo de louco, teria sua liberdade alcançada, pois os loucos podem fazer tudo o que desejam, devido a sua condição de doente mental.
Dessa forma, entende-se que a finalidade desse filme, é trazer à baila, e o faz com bastante pertinência, que os mecanismos da sociedade funcionam de maneira a eliminar os membros indesejáveis para estimular os outros, a exemplo das punições sofridas pelos pacientes do hospício, como agressões físicas, tipo choques elétricos, lobotomia e emocionais, como forma de coibir os demais que desejassem desobedecer às regras daquele lugar. Dessa maneira, tornando exeqüível a diferença entre a liberdade subjetiva da liberdade real social, onde o indivíduo é livre dentro das diversas regras já determinada socialmente, pois elas é que irão demarcar os parâmetros da liberdade. Por assim dizer, o filme discute com propriedade os ditames da sociedade e a exclusão daqueles que os desobedecem.
Referências
FORMAN, Milos. Um Estranho no Ninho. Drama de longa metragem, baseado no livro de Ken Kesey. Estados Unidos, 1975.