Papo Psi

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"Sou meu próprio líder ando em círculos, me equilibro entre dias e noites, minha vida toda espera algo de mim, meio sorriso, meia-lua toda tarde..." (Renato Russo). E assim que me descrevo busco ser autora da minha vida e brilhar sempre no palco da vida, apesar das intempéries.Almejo sempre meu equilíbrio e paz interior numa compreensão mútua. O que faço:Graduanda de Psicologia da Faculdade Santíssimo Sacramento, hoje no 9º semestre e Sargento da Polícia Militar.

domingo, 20 de maio de 2012

Análise do documentário Janela da Alma


A existência é um processo que acontece ao longo do tempo, de forma dinâmica; a cada momento que passa o indivíduo aprende algo ou agrega algo a si que passa a fazer parte dele, à medida que o sujeito consegue ser um e não pedaços que o forma, fica mais forte e tem muito mais possibilidades de estar no mundo e lidar com ele.
O documentário Janela da alma vem trazer à baila às várias maneiras de ver o “real” que vai além da simples percepção, das características próprias das coisas percebidas, uma vez que o fenômeno perceptivo depende também do percebedor. A filosofia existencialista e fenomenológica de estar no mundo, nos diz que o mundo não é puramente exterioridade e o indivíduo não é pura interioridade, mas sim a saída de si para o mundo que tem significação para ele. O mundo e o sujeito revelam-se, reciprocamente, como significações. O eu vive no mundo, mas não se encontra delimitado. Aquilo que se vivencia no momento atual (aqui e agora), pode dirigir o pensamento do sujeito para o que vivenciou, bem como para a expectativa para o que vai vivenciar.
De acordo com as leis gestálticas de percepção (proximidade, similaridade, direção, disposição objetiva, destino comum, pragnanz) observamos que os depoimentos tentam minimizar a necessidade da visão considerada perfeita, chegando, como no depoimento de Hermeto Pascal que romantiza a cegueira, em que o deficiente visual veria o transcendente, ou seja, aquilo que está além da percepção visual, uma vez que o que interessa não é apenas o ver, mas o ver-se; não a imagem do outro, mas o outro como espelho, pois é nos olhos do outro que bem ou mal, nos enxergamos.
A experiência de uma percepção passada de um objeto ou forma, influencia ou não a visão de um objeto que se está vendo aqui e agora. O presente ou aqui e agora convivem com o organismo e com o passado que é uma história, numa relação figura – fundo, de todo e parte. O depoimento de Marjut Rimminem nos mostra como essa relação pode ser devastadora, em que a percepção de sua genitora que a olhava como estrábica e repetia: “coitadinha tão feinha...” perpetuou mesmo após a correção do estrabismo cirurgicamente, pois ninguém notava a mudança. Evidenciando não só o que vemos e como vemos, mas também de que forma enxergamos a nós mesmos.
Campo é aquilo que define e contém toda a percepção e troca. O comportamento deixa de ser entendido apenas como resultado da realidade interna da pessoa e passa a ser analisado em função do campo que existe no momento em que ele acontece onde objetos e pessoas são vistos na sua relação total com o ambiente que o cerca. Essa perspectiva é notória no relato de Win Wenders que diz que prefere ver tudo enquadrado. Nessa percepção um bom enquadramento seria uma tentativa (imaginária na maioria das vezes) de melhor delimitar o campo que na verdade não admite tais precisões, sendo também uma forma de tamponamento de um excesso e da angústia da indiferenciação. A visão seria como uma mediação, baseada nos conceitos e percepções particulares de cada indivíduo, realizadas entre o olhar e o objeto, o diálogo e a subjetividade de cada ser com o real, no qual criamos.
Existem várias formas de ver o real, como relata a cineastra Agnes Varda: “A visão é alterada por sentimentos, sentimentos fortes?” revelando o estabelecimento entre a realidade espacial e a existencial. Apesar de o indivíduo ser um universo fechado ele se encontra dentro de um universo mais amplo com o qual se relaciona. O organismo é um sistema organizado, com o todo diferenciado em suas partes, sendo qualquer sujeito um ser integrado e consistente. Não se pode entender o todo a partir do estudo de suas partes separadas.
O homem é um ser-do-mundo com o outro e este fato é percebido no depoimento de Oliver Sacks que relata que a percepção do outro irá depender dos vínculos tecidos na relação, conduzindo o comportamento a ser regulado pelo meio comportamental em que se está inserido produzindo um comportamento molar o qual é visível a todos e o molecular que acontece no interior do indivíduo do qual só ele tem acesso.
Dessa forma, a visibilidade dos indivíduos que percebem de forma diferenciada o mundo e a si mesmo, sob as mais diversas condições, abre-se ao percebedor como um novo horizonte de significações que no mínimo, farão com que ele hesite antes de fazer discursos que simplifiquem, reduzam ou naturalizam as concepções sobre a realidade como algo fechado, pronto e independente, tendo várias possibilidades de perceber o mundo, seja ele consciente, inconsciente ou imposto por qualquer tipo de limitação física.

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